A REPERCUSSO DO DIAGNSTICO DE PSICOSE NA ESCOLA

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A REPERCUSSÃO DO DIAGNÓSTICO DE PSICOSE NA ESCOLA E NA SOCIEDADE: AUXÍLIO OU SENTENÇA

A REPERCUSSÃO DO DIAGNÓSTICO DE PSICOSE NA ESCOLA E NA SOCIEDADE: AUXÍLIO OU SENTENÇA DIAGNÓSTICA? Drª Denise Quaresma da Silva Círculo Psicanalítico do RGS Centro Universitário Feevale – NH-RS Faculdades São Judas Tadeu –POA- RS denisequaresma@terra. com. br

MOTIVAÇÃO PARA ESTE TRABALHO ¡ A constatação das dificuldades e (im)possibilidades da escola, do

MOTIVAÇÃO PARA ESTE TRABALHO ¡ A constatação das dificuldades e (im)possibilidades da escola, do grupo familiar, alguns profissionais da área “psi”, assim como professores, orientadores, supervisores, coordenadores, emfim, atores da “vida”escolar, familiar e social destas crianças e adolescentes de lidar com os diagnósticos de psicose.

A ethica e a diferença Emergem destas posições assumidas frente a diferença do outro,

A ethica e a diferença Emergem destas posições assumidas frente a diferença do outro, a conduta humana no seu sentido mais verdadeiro, o respeito a constituição subjetiva de cada sujeito, a diferença estrutural. ¡ O ponto de vista ético de cada um e suas implicações, do mundo interno, de nossas crenças. . . ¡

Na medida que passaram a existir a categorização das “doenças Psi”, começaram as exclusões.

Na medida que passaram a existir a categorização das “doenças Psi”, começaram as exclusões. ¡ Percebemos a partir da arte, esta possibilidade. ¡ Ex: quadro de Diego Velázquez, que encontra-se no Museu do Prado, em Madri. ¡

Diego Velázquez - 1656 La familia de Felipe IV ou Las meninas ¡ Quadro

Diego Velázquez - 1656 La familia de Felipe IV ou Las meninas ¡ Quadro mais famoso do pintor. A cena se desenvolve numa sala do Alcázar de Madri e suas protagonistas mostram a grande variedade de protagonistas que integram a estrutura cortesã. ¡

¡ Observem atentamente o quadro.

¡ Observem atentamente o quadro.

Ou seja, todas, mesmo a personagem diferente, possivelmente sindrômica, integram a estrutura cortesã. Levanto

Ou seja, todas, mesmo a personagem diferente, possivelmente sindrômica, integram a estrutura cortesã. Levanto a suposição de que como não havia o diagnóstico (CID), não havia a exclusão. Podemos supor que a partir do diagnóstico, começa a haver o auxílio mais eficaz, mas também inaugura-se a exclusão.

Grafite na parede do Fórum da minha cidade, anos 80 ¡ TODA CIDADE PRECISA

Grafite na parede do Fórum da minha cidade, anos 80 ¡ TODA CIDADE PRECISA DE UM LOUCO PARA MOSTRAR AO POVO ONDE ESTÁ A RAZÃO ¡ Apagaram o grafite, silêncio total. ¡ O encontro do louco com a cidade, com a família, com a escola, mostra -se quase impossível, pelos sentimentos que suscita. ¡

A loucura ao longo da história. FOUCAULT Idade Média: Cidades Européias, a existência dos

A loucura ao longo da história. FOUCAULT Idade Média: Cidades Européias, a existência dos loucos era admitida, sendo possível para os “diferentes” vagar de um canto para o outro ¡ No entanto, os mais exitados eram isolados em pequenas casas, anunciava-se os primeiros sinais da política de exclusão relegada à loucura ao longo dos séculos. ¡

A loucura ao longo da História Revolução Francesa- a loucura deixa de ser um

A loucura ao longo da História Revolução Francesa- a loucura deixa de ser um objeto exclusivo do poder jurídico, passando essa tarefa a ser dividida com medicina. ¡ Periculosidade do louco- este conceito surgiu através desse intercruzamento entre o direito penal e a medicina higienista, fundando assim a psiquiatria. ¡

A PERICULOSIDADE DO LOUCO ¡ Essa noção de periculosidade não ficou restrita somente ao

A PERICULOSIDADE DO LOUCO ¡ Essa noção de periculosidade não ficou restrita somente ao direito e a medicina, passou a ser utilizada na escola, nas casas, nos reformatórios, em todas as instituições e proliferam, ramificamse nas suas redes em toda a sociedade, ou seja, a escola, a família, todos passam a temer tal periculosidade.

Séc XIX= a loucura passa a ser atravessada pelo saber médico. ¡ Anos 1970

Séc XIX= a loucura passa a ser atravessada pelo saber médico. ¡ Anos 1970 - Europa e Brasil= Movimento de Reforma Psiquiátricapropõe a inclusão do portador de sofrimento psíquico na sociedade, porém a exclusão do diferente ainda ocorre delimitando assim como lugar do louco, a exclusão ainda existe. ¡

¡ ¡ A loucura nos possibilita ver a nossa loucura, passamos para o outro

¡ ¡ A loucura nos possibilita ver a nossa loucura, passamos para o outro lado, nos faz reportar ao mais escuro e profundo: o inconsciente. Será que a noção de perigo suscitado diante da possibilidade de convívio com os “loucos”está justamente no horror de olharmos a nossa loucura, de perdermos a razão e sabe-se lá o quê mais, que nos sutenta enquanto sujeitos?

¡ Ao olharmos de frente para estas pessoas, passamos para o outro lado, o

¡ Ao olharmos de frente para estas pessoas, passamos para o outro lado, o lado dos excluídos e isto pode nos possibilitar vermos nossa própria loucura, o que evoca em nós o indizível, o fascínio e o temor de algo que escondemos no inconsciente, como se ela, a loucura, não nos pertencesse, e esteja somente no corpo de outro, o louco.

O CUIDADO NECESSÁRIO COM O DIAGNÓSTICO Dado o diagnóstico de psicose, autismo ou de

O CUIDADO NECESSÁRIO COM O DIAGNÓSTICO Dado o diagnóstico de psicose, autismo ou de algum transtorno global do desenvolvimento, facilmente a família e a escola param de investir no sujeito. ¡ Efeito iatrogênico- ausência de significantes familiares ¡ Família- não investindo mais libido alguma no(a) filho(a). ¡

¡ Uma vez aplicado, esse diagnóstico tende a tornar-se algo rígido, estanque e paradoxalmente,

¡ Uma vez aplicado, esse diagnóstico tende a tornar-se algo rígido, estanque e paradoxalmente, a importância do diagnóstico acaba sendo setenciar, ao invés de possibilitar uma intervenção necessária.

AFINAL, ELA É PSICÓTICA? Esta pergunta, aparentemente de fácil resposta, onde podemos supor a

AFINAL, ELA É PSICÓTICA? Esta pergunta, aparentemente de fácil resposta, onde podemos supor a priori duas possibilidades de resposta: um “sim” definitivo, ou uma negativa, que não seria definitiva. O que fazer, como fazer um diagnóstico sem que este torne-se uma sentença diagnóstica ?

História de M. . Relata a profissional Psi que diversas vezes foi procurada por

História de M. . Relata a profissional Psi que diversas vezes foi procurada por uma professora, que se queixa de uma menina de nove anos, demandando que ela pudesse “dar um jeito” no que ocorria: a menina comumente defecava em sala de aula, proliferando com mau cheiro, e por vezes gostava de passar as fezes nas paredes “desenhando-as”.

Quem é M A menina é a última filha, numa prole de nove irmãos,

Quem é M A menina é a última filha, numa prole de nove irmãos, sendo muito mais nova dos demais, ficando em casa sozinha com os pais, já velhos, sendo que estes falam apenas o idioma alemão, não falando com ela em casa o idioma utilizado na escola, o português.

O que diz a profissional Relata que a menina vem ao atendimento clínico, na

O que diz a profissional Relata que a menina vem ao atendimento clínico, na maior parte das vezes fedendo. Questiono-a sobre como conduz a sessão, pergunto se a menina brinca, desenha, diz que a menina jogos com ela. Insisto perguntando se a menina brinca, se fantasia, diz que não sabe, diz que a menina adora jogar dominó, cartas, jogos diversos, que na verdade também não suporta o cheiro que ela exala. . . Começo a inteirar-me da vida da menina.

Visita à escola. . . Proposta de troca de papéis. . . . As

Visita à escola. . . Proposta de troca de papéis. . . . As crianças estão ensaiando a apresentação de uma dança alemã, típica da região. Os meninos comandam a dança. Proponho a troca de papéis, onde as meninas passam a comandar a dança.

M fica à vontade, participa alegremente e da mesma forma que as demais crianças,

M fica à vontade, participa alegremente e da mesma forma que as demais crianças, rindo muito da brincadeira proposta, dando-se conta da troca, simbolizando seu lugar na dança, estando presente na ausência.

A importância do diagnóstico Aponto a significação da possibilidade de M ser ou não

A importância do diagnóstico Aponto a significação da possibilidade de M ser ou não psicótica, para a psicóloga e para a professora. Enfatiza-se a importância do olhar da psicóloga e da professora sobre a menina. . .

Quanto a M, a partir do “veredicto” construído pelas observações: não está psicótica, pois

Quanto a M, a partir do “veredicto” construído pelas observações: não está psicótica, pois brinca, simboliza, “desliza” nos papéis propostos nos jogos; houve toda uma circulação, uma aceitação de que algo poderia ser feito e este fato, a meu ver, auxiliou a menina a (re)organizar-se.

A psicóloga, fazendo a função materna “transitivando”, passou a fazer brincadeiras visando demarcar o

A psicóloga, fazendo a função materna “transitivando”, passou a fazer brincadeiras visando demarcar o corpo de M, quer seja brincando com ela, ou pintando e delimitando com marcas o corpo de M desenhando em tamanho natural sobre o papel pardo, sobre o chão.

Permitiu desta forma que M, a partir desta posição transitivista, pudesse apropriar-se do seu

Permitiu desta forma que M, a partir desta posição transitivista, pudesse apropriar-se do seu saber sobre si, seu corpo e seus desejos.

Fica o questionamento. . . Como lidariam com M estes profissionais (e outros da

Fica o questionamento. . . Como lidariam com M estes profissionais (e outros da “vida” escolar) se o “veredicto” colocado no diagnóstico fosse de psicose?

Salienta-se a questão imperativa e os efeitos iatrogênicos que cercam e atravessam este dito=

Salienta-se a questão imperativa e os efeitos iatrogênicos que cercam e atravessam este dito= ¡ É psicótico! ¡