A palavra azulejo se origina do termo rabe
A palavra azulejo se origina do termo árabe “al zulaicha” ou “zuléija”, que significa pequena pedra polida. Há cinco séculos que a azulejaria ocupa uma posição de relevo entre as artes decorativas portuguesas e, apesar de ao longo da sua história ter sofrido múltiplas influências, desenvolveu em Portugal características específicas entre as quais merecem destaque a riqueza cromática, a monumentalidade, o sentido cenográfico e a integração na arquitetura. A azulejaria portuguesa descende em linha direta da cerâmica árabe e evoluiu sob a influência dos avanços das técnicas da arte cerâmica italiana. Inicialmente a cerâmica ornamental era aplicada no exterior dos edifícios, transformando-a num elemento estrutural da sua arquitetura, na decoração interior das igrejas, nos palácios e nos conventos. Dos fins do século XV até hoje, em Portugal e em praticamente todos os países, perdura um manifesto original e funcional que ultrapassa a mera função decorativa: a utilização de azulejos para cobrir as paredes. Mas, em nenhum outro país, o azulejo desempenhou papel tão complexo na transformação dos espaços arquitetônicos como em Portugal. Os primeiros azulejos portugueses datam de 1584 e são azuis. Capela do Jardim, Solar dos Zagallos, Sobreda, Almada
Em 1498 o rei de Portugal D. Manuel I vai à Espanha e fica deslumbrado com a exuberância dos interiores mouriscos, com a sua proliferação cromática nos revestimentos parietais complexos. É com o seu desejo de edificar a sua residência à semelhança dos edifícios visitados em Saragoça, Toledo e Sevilha que o azulejo hispano-mourisco faz a sua primeira aparição em Portugal. O Palácio Nacional de Sintra, que serviu de residência ao rei, é um dos melhores exemplos da história desse azulejo inicial ainda importado de oficinas de Sevilha em 1503. Sala dos Brasões, Palácio Nacional de Sintra, séc. XV
Palácio Nacional de Sintra, séc. XV
Palácio Nacional de Sintra, séc. XV
Durante a metade do século XVI, Portugal passa a possuir suas próprias fábricas de azulejos. Os artesãos utilizam então a técnica chamada “majolica”, criada por Francesco Nicoloso. Os arabescos e os motivos ainda geométricos são pintados sobre um suporte liso. A técnica de Nicoloso torna possível a representação figurativa. Avestruz, séc. XVI - Técnica Majolica
Adaptando-se aos vários condicionalismos econômicos, sociais e culturais específicos, o azulejo português passa a ter personalidade própria: predomínio de representações figurativas, principalmente medalhões alegóricos e painéis representando cenas. Medalhão alegórico, Igreja de S. Roque, Lisboa, por Francisco de Matos, 1584 Igreja de S. Roque, Lisboa, 1584
Fonte do Pombal, Vila de Góis, séc. XVI
Painel de Azulejos, séc. XVI
Igreja da Misericórdia, séc. XVI
Igreja Matriz de Atalaia, séc. XVI
O século XVII caracterizou-se pela diversidade da figuração tais como: cenas religiosas, de caça, mitológicas e satíricas eram pintadas em azulejo, em colorido livre e tinham como principais clientes a Igreja e a Nobreza. A Igreja encomendava figuras de santos, emblemas e cenas narrativas religiosas; a Nobreza encomendava o azulejo profano para a decoração de espaços palacianos. Igreja da Atalaia, Painel de Azulejo do início do séc. XVII
Igreja da Atalaia , início do séc. XVII Convento Santa Clara, Porto, séc. XVII
Azulejos, séc. XVII
Azulejos, séc. XVII
Surgiram os célebres "tapetes" do século XVII, formados pela repetição de padrões policromos. Estes padrões resultavam de combinações de um número variável de azulejos, formando quadrados de 4, 16, 36, ou mais elementos. Os vários "tapetes", cada um com o seu padrão diferente, justapostos e emoldurados por faixas, revestiam de alto a baixo as paredes das igrejas e por vezes o próprio teto, produzindo efeitos decorativos surpreendentes. Painel de “azulejos de repetição”, séc. XVII
Em meados desse século alteram-se os gostos da sociedade portuguesa, influenciada pelo estilo Rocócó que se desenvolveu principalmente no sul da Alemanha, Áustria e França. É caracterizado pelo excesso de curvas e pela profusão de elementos decorativos como conchas, laços, flores e folhas.
Cesto de Flores e Frutos ladeado por duas Aves, séc. XVII
Painel Rococó no Jardim do Palácio Nacional de Queluz A partir do último quartel do século XVII, vários fatores provocaram profundas transformações na estética do azulejo. Os navegadores portugueses que tinham viajado pelo Oriente, divulgaram na Europa a faiança chinesa azul e branca, que rapidamente conquistou o gosto dos países do Norte da Europa e se estendeu mais tarde aos países meridionais.
O século XVIII é a idade dourada do azulejo em Portugal que ficou conhecida como a “Grande produção Joanina”, reinava D. João V (1706 -1750). Esta época é caracterizada por uma suntuosidade alimentada pelo ouro e diamantes provenientes do Brasil, tendo a produção aumentado substancialmente graças às grandes encomendas. Painéis monumentais enfeitam então os palácios, as igrejas, os claustros ou as fontes. Estilo e motivos (cenas de guerra, batalhas, episódios mitológicos ou extraídos da vida dos santos) refletem o gosto da época. Nas igrejas, os tons frios e azuis dos azulejos se misturam aos dourados das madeiras. Igreja do Convento da Conceição, séc. XVIII
Igreja de São Lourenço, Almansil, Lisboa
Coluna Jardim Interior, Quinta dos Azulejos, Lisboa Maica Domnului de la Carmo, Coimbra, 1770
Capela das Almas, Porto, séc. XVIII
Capela das Almas, Porto, séc. XVIII
O espanhol Gabriel del Barco introduziu em Portugal um gosto decorativo mais exuberante e uma pintura sem contornos do desenho. Revelou na sua pintura pouca preocupação pelo rigor e perfeição do desenho para, através de um traço vigoroso e espontâneo, dar primazia aos efeitos cenográficos que iriam marcar a azulejaria portuguesa durante várias décadas. Nas oficinas nacionais surgiram novos artistas de formação acadêmica que puderam usar livremente a sua criatividades na composição dos azulejos arquitetônicos, dos quais se destacam António Pereira e Manuel dos Santos. Azulejo do interior da Ermida da Memória, Setúbal, séc. XVIII
Convento da Graça, Torres Vedras, séc. XVIII
Convento da Graça, Torres Vedras, séc. XVIII
Convento da Graça, Torres Vedras, séc. XVIII
Cozinha dos Frades do Convento da Congregação do Oratório de Lisboa, séc XVIII
Igreja Matriz de Alte, Capela-Mor, séc. XVIII
Mosteiro de São Vicente de Fora, Lisboa, séc. XVIII Séc. XVIII
Os Esponsais, Igreja de Arrentela, séc. XVIII
Paróquia da Moita, Anadia, Diocese de Aveiro, séc. XVIII
Palácio do Marquês de Pombal, Oeiras, séc. XVIII Com o terremoto de 1755, a necessidade imprevista da reconstrução da cidade de Lisboa leva a retomada do “azulejo padrão”, que, como material de baixo custo, vai permitir a aplicação rápida nas fachadas dos edifícios e ao mesmo tempo elevar o seu efeito estético. Vão-se observar, pequenos painéis de registro em fachadas, representações de padroeiros de proteção contra catástrofes naturais, e, em frisos de portas e janelas, já aparece a introdução da estética neoclássica de caráter mais racional e quase desprovida de decoração. Este tipo de azulejo fica conhecido como “azulejo pombalino” como referência ao Marquês de Pombal, responsável pela reconstrução da cidade.
Uma das fábricas com importante papel na reconstrução de Lisboa foi a “Fábrica Sant'Anna” fundada em 1741. Esta fábrica ainda se mantém ativa produzindo azulejo e faianças através de processos inteiramente manuais. O “azulejo fino”, branco e azul, cuja invenção é atribuída aos ateliês de Delft, na Holanda, aparece no fim do século, influenciado pela porcelana chinesa. Painel de Azulejos Rococó dos meados do séc. XVIII, do Palácio Marquês de Pombal
Painel de Azulejos Portugueses estilo Dona Maria I Por volta de 1780, já em pleno reinado de D. Maria I, surge o estilo neoclássico. O azulejo português aderiu rapidamente às influências que chegavam de outras regiões da Europa e exprimiu-se, sobretudo sob a forma de alisares com enquadramentos retilíneos e elementos decorativos policromos em que predominam os florões, as grinaldas, as plumas, as "chinoiseries" e os medalhões com paisagens. O "estilo D. Maria", como ficou conhecido em Portugal, durou até o princípio do século XIX.
Nos séculos XIX e XX, os motivos tornam-se mais simples, enquanto a policromia reaparece. O tempo das guerras napoleônicas favorece o declínio do azulejo, que os emigrantes, de volta do Brasil, recolocarão na moda em meados do século XIX. A partir desta data, o azulejo reflete as grandes estéticas do tempo: o “Art Nouveau” primeiro, depois o historicismo do início deste século. Praça José da Costa, Portugal, 1900
Igreja do Carmo, Porto, 1912
Parque Eduardo VII, Lisboa, por Jorge Colaço, 1922
Azulejos do final do séc. XIX, início do séc. XX
O azulejo é utilizado para decorar os imóveis públicos, principalmente as estações metropolitanas (Aveiro ou Porto) e também os palácios (Palace Hotel do Buçaco) ou as fachadas igrejas. Os temas históricos ou oriundos da vida popular são então impregnados por um simbolismo um pouco ingênuo. O principal representante desta corrente foi Jorge Colaço, autor de uma vasta obra em que a técnica da pintura a óleo foi adaptada ao azulejo. Palácio Valada-Azambuja ou dos Condes de Azambuja, 1990
Palace Hotel do Buçaco
Palace Hotel do Buçaco Episódio da Batalha de Aljubarrota de 1385, entre os Exércitos Português e Castelhano, pintado por Jorge Colaço, Lisboa, 1922
Adamastor, Palace Hotel de Buçaco, por Jorge Colaço, 1907
Estação de Trem, Aveiros, 1916 Os artistas portugueses criaram obras impressionantes que podem ser admiradas no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, e no “Metropolitano de Lisboa”, que tem sido o maior veículo de divulgação pública da arte do azulejo.
Estação de Trem, Aveiros, 1916
Estação de Trem, Aveiros, 1916
Estação de Trem de São Bento, Praça de Almeida Garrett, Porto, séc. XX
Estação de Trem de São Bento, Porto, 1939
O azulejo de tradição milenar em Portugal é, por um lado, exemplo vivo da criatividade artística portuguesa, e por outro, testemunha da evolução histórica do país. O azulejo foi incorporando influências diversas, desde islâmicas e renascentistas ao exotismo trazido pelos Descobrimentos, até as novas tendências da industrialização. Disseminados pelos portugueses nos quatro cantos do mundo, o azulejo é também sinal do multiculturalismo, demonstrando que a diversidade é também um fator de criatividade e inovação. Azulejos de Belém, Lisboa
Arcozelo, Santa Maria da Feira, 1995
Créditos Fundo musical: A Guitarra Portuguesa Produção e Supervisão: Mario Capelluto e Ida Aranha mario. capelluto@globo. com Pesquisa e Formatação: Julia Zappa juliazappa@uol. com. br http: //www. sabercultural. com. br Março 2009
Fontes: http: //pt. wikipedia. org/wiki/Azulejo http: //evtnet. no. sapo. pt/proposta/azulejo. htm http: //www. oazulejo. net/oazulejo_frame. html http: //www. portugalvivo. com/spip. php? article 3075 http: //pagesperso-orange. fr/annie. cicatelli/pedra. htm http: //www. instituto-camoes. pt/encarte 51 c. htm http: //www. museuhistoriconacional. com. br/mh-e-31 c. htm http: //www. geocities. com/azulejos_portugal/azulejo_em_portuga. htm
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