A liturgia s agradvel a Deus quando move

A liturgia só é agradável a Deus quando move as pessoas a trabalhar não para os seus próprios intereses, mas por uma vida melhor, mais digna e justa para todos, começando pelos últimos. José Antonio Pagola Palavra e Vida João 2, 13 -25 – Terceiro domingo Quaresma –B- // 15 março 2009.

Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Templo de Jerusalén A páscoa era a festa da libertação. Jesus acode a celebrá-la como um leigo mais, misturando-Se com a multidão, rezando e cantando salmos. Os sinópticos situam este relato na última semana da vida de Jesus: (Mc 11, 15 -19; Mt 21, 12 -17; Lc 19, 45 -46). João coloca-o no princípio da vida pública. Quer dizer, desde o princípio, que com Jesus se inaugura um tempo novo nas relações do ser humano com Deus.

Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsouos a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: –Tirai isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio. Jesus enfrenta-Se com indignação com todo a bagunça religioso-mercantil que se tinha formado à volta do templo. As pombas, eram as pessoas mais pobres que as tinham que comprar. Com este gesto denuncia a idolatria do templo, onde o dinheiro e os negócios suplantaram Deus. É a reacção de Jesus perante aqueles que manipulam o sagrado, atemorizam as pessoas por meio do culto e tudo submetem aos seus próprios interesses.

Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: “Devora-me o zelo pela tua casa”. Ter paixão, ter zelo por algo, é vivê-lo, defendê-lo com todo o interesse e toda a intensidade. Tem-se paixão e zelo por aquilo que se ama, pelo que interessa profundamente. Quais são os meus interesses? Coincidem os meus critérios e valores com os de Jesus? Sinto paixão pela Boa Notícia, pela paz, por um mundo mais solidário e uma sociedade mais justa e livre? Por quê Se apaixona Jesus? Por quê me apaixono eu?

Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: –Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo? Os seus sinais são preferir curar que cumprir o preceito do sábado. Jogar a su vida e o seu prestígio para resgatar e devolver a dignidade à mulher adúltera em vez de cumprir a lei. A sua surpreendente independência e liberdade. Tocar leprosos. Lavar pés. O seu coração compassivo. Acolher a todos à sua mesa. Antes a pessoa marginal que a importante. Os primeiros, relegados ao último lugar e os últimos ao primeiro. Preferência pelas pessoas marginalizadas. A sua própria marginalidade. Ser um constante libertador das pessoas. Ver Deus em todas as pessoas, em todas as coisas e em todas as circunstâncias. Os seus sinais são um escândalo social e religioso.

Jesus respondeu-lhes: –Destruí este templo e em três dias o levantarei Disseram os judeus: –Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias? O Deus de Jesus não é o Deus do culto e dos templos, do incenso, do holocausto e do sacrifício. Ele é o Deus da compaixão, da liberdade, da vida. . . É Jesus e a sua mensagem o centro do nosso culto? Que deveríamos purificar nas nossas celebrações? O que é que há de mercantilismo (negócio) nas minhas relações com Deus?

Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Jesus ressuscitado é o novo lugar de encontro entre Deus e o ser humano. O verdadeiro templo é Jesus e todas e cada uma das pessoas. A nossa tarefa é aproximar-nos delas, partilhar os seus problemas, as suas alegrias, os seus projectos, as suas preocupações, estar atentos às suas necessidades. . . As pessoas são templos vivos de Deus e a sua glória é que todas vivam livres e felizes.

Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraramse do que tinha dito e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera. A comunidade cristã, iluminada pela experiência pascal, descubrirá que o lugar da presença e o encontro com Deus não é um recinto, mas a pessoa de Jesus ressuscitado. A resurreição de Jesus é a confirmação das suas palavras. Começa já o tempo do culto “em espírito e em verdade”, centrado em Jesus ressuscitado.

Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não Se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem. Algumas pessoas pensam que a atitude de Jesus no templo foi violenta. Talvez tenham de modificar a imagem que têm de Jesus. Outras perguntam-se se não reagiria hoje de maneira similar perante muitas atitudes da Igreja, das paróquias e de cada um de nós. O texto convida-nos a uma profunda reflexão tanto a nível pessoal como eclesial.

Templos profanados. Uma vítima inocente é um deicídio, Uma criança faminta é uma blasfémia, Uma mulher violada é uma profanação, Uma tortura física ou psicológica é um sacrilégio, Um toxicodependente é um templo derrubado, . . . . Perante estas realidades não teríamos que continuar a levantar o chicote e o cartaz da liberdade, da justiça, e do amor. . . ?