A linguagem na perspectiva das Cincias da Linguagem
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A linguagem na perspectiva das Ciências da Linguagem CBD 5283 Informação e Linguagem na Contemporaneidade Profa Vânia Lima 2011 1
Linguística, Linguagem e Língua �A lingüística tem duplo objeto: é a ciência da linguagem e a ciência das línguas. �Linguagem: ◦ construção da razão (laço entre representação e objeto é arbitrária) ◦ faculdade humana, característica universal e imutável do homem, ◦ não é a mesma coisa que as línguas, sempre particulares e variáveis, nas quais se realiza. ◦ prática social que se organiza em sistemas de signos �Lingüística = teoria das línguas 2
Linguagem Linguagens: visual, gestual, verbal. . . expressam, por diferentes modalidades de substâncias significantes, o mesmo significado básico modelização do mundo Linguagem: meio pelo qual se expressa a relação homem/mundo, homem/homem Permite nomear/criar/transformar o mundo. Matéria do pensamento e veículo de comunicação Sistema de valores 3
Linguagem �Como realidade material – organização de sons, palavras, frases – a linguagem é relativamente autônoma. �Como expressão de emoções, ideias, propósitos ela é orientada pela visão de mundo, pela realidade histórica, social e cultural de seu falante 4
Linguagem �Primeiros estudos século IV a. C. (hindus) Panini descreve minuciosamente sua língua=> modelos de análise �Platão: procura definir uma relação entre o conceito e a palavra que o designa “haverá uma relação entre a palavra e o seu significado? ” �Aristóteles: procede uma análise da estrutura linguística=> teoria da frase, partes do discurso, enumera categorias gramaticais. 5
Língua Sistema simbólico, sistema semiótico Realização da linguagem Fato cultural Contrato social (convencionalismo do signo) Instrumento que permite transcender nossa experiência Torna o mundo mais estável, mudanças lentas “a língua é o interpretante de todos os outros sistemas, lingüísticos ou não”. . . “a grande matriz semiótica” (Benveniste) Particular e variável 6
LÍNGUA (Saussure, 1916) “É um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” �é um sistema de signos; �é uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em que cada elemento tem um valor funcional determinado; é um arranjo sistemático de partes; Estrutura: tipos particulares de relações que articulam as unidades de um certo nível. 7
FALA (PAROLE) �É a utilização local e ocorrencial de uma língua, acionada pela enunciação própria a cada concreto ato de comunicação. �Compreende só o fazer concreto de um falante, aquilo que um falante de fato diz. �É a utilização ocorrencial, diferencial e sempre parcial, que realiza algo na langue na forma variante de uma comunicação, um discurso ou um diálogo. �“A característica essencial da parole é a liberdade das combinações (Saussure) 8
Saussure (1916) ◦ Cada uma das unidades de um sistema define-se pelo conjunto das relações que mantém com as outras unidades e pelas oposições em que entra. ◦ As entidades lingüísticas não se deixam determinar senão no interior do sistema que as organiza e as domina, e umas em razão das outras ◦ Elabora-se assim, uma teoria da língua como sistema de signos e como organização de unidades hierarquizadas. ◦ A língua é uma entidade relativa e opositiva. 9
�As unidades da língua dependem de dois planos: ◦ sintagmático, quando se encaram nas suas relações de sucessão material no seio da cadeia falada; �O menino foi jogar futebol. ◦ paradigmático quando se propõe em razão de possível substituição, cada uma no seu nível e dentro da sua classe formal. �O menino foi jogar futebol. vôlei xadrez 10
�Uma forma lingüística constitui uma estrutura definida: ◦ é uma unidade que envolve partes; ◦ essas partes apresentam-se num arranjo formal que obedece a certos princípios constantes; ◦ o que dá a forma ou caráter de uma estrutura é o fato de que as partes constituintes exercem uma função; ◦ finalmente essas partes constitutivas são unidades de um certo nível, de modo que cada unidade de um nível definido se torna subunidade do nível superior. 11
�Lingüística ◦ ◦ moderna abordagem descritiva; consciência do sistema; preocupação de levar a análise até as unidades elementares, escolha explícita dos procedimentos. 12
�A linguagem permite simbolizar. �Simbolizar = faculdade de representar o real por um signo e de compreender o signo como representante do real, de estabelecer, pois, uma relação de significação entre algo diferente. �Permite a formação do conceito distinto do objeto concreto. 13
�Sinal é um fato físico ligado a outro fato físico por uma relação natural ou convencional: ◦ relâmpago anunciando a tempestade; ◦ sino anunciando refeição; ◦ grito anunciando o perigo. �O símbolo não tem uma relação natural com o que simboliza. 14
�A linguagem é um sistema simbólico especial organizado em 2 planos: ◦ de um lado é um fato físico. ◦ de outro lado, é uma estrutura imaterial, comunicação de significados. Por isso o símbolo lingüístico é mediatizante. 15
Linguagem Discurso ( palavras /conceitos) Representação de objetos e de situações (signos que são distintos dos seus referentes materiais) 16
�Portanto, ◦ língua e sociedade não se concebem uma sem a outra; ◦ a cultura é um fenômeno inteiramente simbólico; ◦ pela língua o homem assimila a cultura, a perpetua ou a transforma. 17
Relação língua/realidade Não são coisas, mas signos que circulam entre o falante e o ouvinte no circuito da parole(Saussure). “O que é inferno? ” pergunta angustiado o menino. . . em Vidas Secas e, na ausência de resposta mais convincente, fica repetindo e degustando o signo inferno, diante do olhar solidário da cachorra Baleia”. . “Ele tinha querido que a palavra virasse coisa. . . ” (Graciliano Ramos, citado por Blikstein, 2003, p. 21) 18
Relação língua/realidade �Língua �É é forma, não substância. signo, não coisa. �A linguagem reproduz o mundo submetendo-o à sua própria organização. �Função mediadora �cada língua = microcosmo do macrocosmo que é o total da sociedade �cada língua recorta a realidade de um modo particular 19
Relação língua/realidade Língua = sistema modelizante primário Código cultural: imprime nos indivíduos de um mesmo grupo social o mesmo modelo de mundo, uma mesma visão ideológica; que se convêm reciprocamente, pois não fazem mais do que simular as funções e propriedades do sistema ao qual refletem, a Linguagem Natural. (modelizante e modelizável) Língua natural – posição hierárquica predominante entre os sistemas semióticos: única realidade imediata para o pensamento 20
Metalinguagem universal LN - origem de todos os demais sistemas semióticos - Primeiro código apreendido Transcodificação: tradução entre códigos - língua-objeto, língua tradutora (metalíngua) Ex. : romance (língua-objeto) filme (metalíngua) 21
Descrição dos sistemas semióticos �Do ponto de vista das relações intersígnicas ◦ Função sintática �Do ponto de vista das relações de um signo para com o seu objeto (signo enquanto veículo de informação) ◦ Função semântica �Do ponto de vista das relações do signo para com os seus usuário ◦ Função pragmática 22
Diferença fundamental com outros sistemas semióticos dupla articulação Articulação = constituído de partes: . monema/morfema (unidade significativa elementar)==> 1 a. articulação. fonemas ==> 2 a. articulação 23
Língua e cultura - As LNs delimitam aspectos e experiências vividas por cada povo, as quais como as línguas, não coincidem de uma região para outra. - Chauffer, Conductor, Driver, Motorista - francês, português – ‘nós’ relações extralingüísticas diferentes (eu e tu, eu e todos vós, eu e ele, eu e vocês todos etc. ). ‘Nós’ vários referentes - malgaxe pronomes variam conforme determinados critérios: uso familiar, proximidade das pessoas, polidez. . . 24
Estrutura lingüística Língua: organização e classificação - plano do conteúdo: percepção de descontinuidades, organização do conteúdo, significação - plano da expressão: percepção de descontinuidades, organizações do som Sistema de relações valor - relação no interior de um sistema Estrutura: modelo, construção mental, noção abstrata, que serve como hipótese de trabalho 25
Linguistica estrutural �“Conjunto de pesquisas que repousa sobre a hipótese de que é científicamente legítimo descrever a linguagem como sendo essencialmente uma entidade autônoma de dependências internas de uma estrutura”. (Hjelmslev) 26
Noção de valor - Todos os valores são constituídos: - 1 o. Por uma coisa dissemelhante susceptível de ser trocada por outra cujo valor resta determinar; - 2 o. Por coisas semelhantes que se podem comparar àquela cujo valor está em causa. - Exemplo: valor da moeda varia dentro do sistema monetário utilizado 27
Valor. . . O valor de uma forma reside inteiramente no texto de onde o tomamos. . . : no conjunto das circunstâncias morfológicas, fonéticas, ortográficas, que a rodeiam e a esclarecem. (Saussure) Não se pode isolá-lo do sistema. Não se trata de simples união de um som com um conceito. 28
Cours de linguistique générale (Saussure) �É o marco do surgimento do estruturalismo na lingüística �Modo fenomenológico do conhecimento: o saber se atém às manifestações mais imediatas do seu objeto de estudo �Modo objetivista do conhecimento: o saber constrói o seu objeto a partir de suas relações estruturais e estruturantes objetivas 29
�A lingüística passa de um enfoque eminentemente histórico e atomístico para uma abordagem que aspira à globalidade da língua enquanto estrutura. � Essa globalidade descarta os fatos através dos quais se atualizam as relações da língua com a sociedade (abordagem histórica ou diacrônica). �A abordagem estrutural proclama-se exclusivamente sincrônica: aplica-se somente a um estado da língua, que se imagina estático e discreto. 30
�Ao imprimir uma estrutura à língua, Saussure promove toda a organização da lingüística, deixando para trás o empirismo primário e mais imediato e estabelecendo a primazia do conceito de sistema lingüístico. �O sistema lingüístico, para Saussure, é entretanto, fundamentalmente, um sistema de signos, o que justifica inclusive a filiação da lingüística a uma ciência geral dos signos, que ele denomina semiologia. ◦ “a lingüística não é senão uma parte dessa ciência geral; as leis que a semiologia descobrir serão aplicáveis à lingüística e esta se achará destarte vinculada a um domínio bem definido no conjunto dos fatos humanos”. 31
�Saussure a língua é o único objeto de estudo da lingüística. �Oposição entre os conceitos: �Língua (o lado social da linguagem, sua parte essencial do ponto de vista lingüístico) X �Fala (manifestação individual da língua que deve ser superada no processo de constituição da teoria lingüística) 32
LÍNGUA (LANGUE) � sistema de regras (fonológicas, morfossintáticas e semânticas) que determina o emprego das formas coletivas convencionais, necessárias para a comunicação. � É um sistema supra-individual na medida em que é um objeto convencional, fruto de um pacto social, construído por toda comunidade e que nenhum falante em particular tema autoridade para alterar. � Contém tudo o que os membros de um grupo podem dizer. � É o material léxico e gramatical, estocada em competência, que preexiste como entidade abstrata a todo e qualquer ato de comunicação, dando-lhe sentido. 33
FALA (PAROLE) �É a utilização local e ocorrencial de uma língua, acionada pela enunciação própria a cada concreto ato de comunicação. �Compreende só o fazer concreto de um falante, aquilo que um falante de fato diz. �É a utilização ocorrencial, diferencial e sempre parcial, que realiza algo na langue na forma variante de uma comunicação, um discurso ou um diálogo. �“A característica essencial da parole é a liberdade das combinações (Saussure) 34
�A língua saussuriana é um objeto sincrônico. A lingüística sincrônica, que se ocupa de um estado de língua, resulta de uma abstração através da qual a língua é imobilizada fora do devir temporal. �A concepção estruturalista transforma a língua real, essencialmente dinâmica, em um objeto ideal, a língua estática. �Axioma fundamental do estruturalismo lingüístico: a concepção de língua como um sistema que só pode e deve ser estudado a partir de suas relações internas. 35
�Saussure centra o seu raciocínio no processo de significação sediado no signo lingüístico, “a reunião de um conceito a uma imagem acústica”. �Estrutura gramatical desempenha o principal papel na organização da língua enquanto sistema, mas é circunscrita à formulação dicotômica das relações que o signo lingüístico estabelece nos eixos vertical (paradigmático) e horizontal (sintagmático) da estrutura da língua” �O estudo da variação lingüística é excluído. 36
�A língua é uma instituição social. �Portanto, tem vida independente e existe independentemente de consciências individuais, porque o indivíduo ao nascer já a encontra constituída e em pleno funcionamento, e porque esse funcionamento não é afetado pelo uso que um indivíduo isoladamente faz dela. 37
Crítica ao estruturalismo �O estudo da linguagem não pode relegar a interação entre o social e o individual que se realiza no ato da fala; e mais do que isso, a concepção de língua que fundamenta esse estudo tem de comportar em si a dinamicidade dessa interação. �Essa contradição entre o plano social da língua e o plano do indivíduo falante (abstraído de suas relações sociais) se perpetuará ao longo do desenvolvimento do estruturalismo lingüístico, constituindo um dos pontos cruciais a ser atacado pela ruptura epistemológica implementada pelo modelo teórico da sociolingüística variacionista na década de 1960. 38
Sincronia/Diacronia �Sincronia : diz respeito ao estudo de um estado de língua considerado isoladamente �Diacronia: estuda a sucessão dos diversos estados de língua e as mudanças lingüísticas, entendidas atomisticamente como a substituição de um elemento por outro. ◦ Ex. jogo de xadrez : se substituo as peças de madeira por marfim, a troca é indiferente para o sistema, mas se diminuo ou aumento o número de peças, essa troca afeta profundamente a “gramática” do jogo. 39
Considerações �A língua possui uma organização estrutural que apresenta uma lógica própria de funcionamento. �Essa organização estrutural é profundamente permeada por influxos da organização sociocultural da comunidade de fala. �A funcionalidade da língua constitui um produto cultural historicamente condicionado e deve ela mesma responder às necessidades apresentadas pelo desenvolvimento sociocultural da comunidade que a utiliza. 40
�O sistema lingüístico saussuriano = representação teórica que buscou apreender a dimensão estruturante da linguagem e municiar a lingüística com um instrumental analítico que a tornasse capaz de enfrentar a questão do funcionamento da língua � Tal representação colidiu de frente com a pluralidade, a heterogeneidade e a dinamicidade do modo concreto de existir da língua, ou seja, com as relações que se estabelecem e constituem a dimensão da mudança lingüística. � A contradição entre mudança e sistema, desempenha um papel crucial na constituição do estruturalismo lingüístico, bem como na superação; num dos mais significativos percursos da lingüística no século XX. 41
�Partindo de uma concepção sistêmica de língua, os lingüistas de Praga empreendem uma análise, que se pretende globalizante, de cada língua particular. �Essa pretensão envolve uma necessidade: os fatos lingüísticos não podem ser apreendidos isoladamente, devem ser compreendidos no sistema lingüístico do qual fazem parte. 42
Estrutura elementar (Greimas, Rastier) conjunção/disjunção (identidade e oposição) estrutura lingüística: presença de 2 termos vinculados por uma relação 1) Para que dois termos possam ser captados juntos é preciso que tenham algo em comum (semelhança, identidade) conjunção 2) Para que dois termos possam ser distinguidos, é preciso que sejam diferentes, qualquer que seja a forma (problema da diferença e da não identidade) disjunção 43
Conjunção/disjunção Nível semântico: rodovia federal/rodovia estadual Nível fonológico: pato/bato 44
Síntese provisória Lingüística documentária - conhecimento da lgg permite ver que a significação se expressa através de relações entre signos que podem ser arbitrariamente recortadas por cada sistema - cada comunidade lingüística pode manipular o recorte a seu modo; - cada sistema propõe formas de organização semântica distintas, segundo diferentes contextos Linguagem documentária desempenha uma função semiótica específica, propondo, por hipóteses institucionais, modos de organização da significação 45
Referências � Benveniste, E. (1991) Vista d'olhos sobre o desenvolvimento da linguística. In: ____. Problemas de linguística geral, I. São Paulo : Ed. Nacional ; EDUSP. � LOPES, E. (1987). Definição do campo. In: ____. Fundamentos da lingüística contemporânea. São Paulo : Cultrix. cap. 1. � LOPES, E. (1997). A revolução estruturalista. cap. 1 (p. 29 -44); O nascimento da lingüística geral e do estruturalismo. cap. 3 (p. 91 -110). In: ___. A identidade e a diferença. São Paulo : Edusp 46
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