A CAPACIDADE DE ESCOLHA Angela Guilhermina de Almeida

A CAPACIDADE DE ESCOLHA Angela Guilhermina de Almeida Beirão

"É em geral com o nosso ser reduzido ao mínimo que nós vivemos, a maioria das nossas faculdades adormecidas, porque repousam no hábito, que sabe o que cumpre fazer e não necessita delas". Marcel Proust

É assim que vivemos: adormecidos. Nossas ações transformam-se em hábitos e todo hábito não passa de repetição. Nos acostumamos com a vida, dia após dia, vivendo-a como se fosse eterna.

Postergamos as mudanças, mantemos o dia regrado, deixamos de inovar. . . tudo parece enfadonho e os dias se repetem. Só que a vida não é um hábito e sim uma trajetória com apenas duas estações: uma de embarque e outra de desembarque.

Nos envolvemos tanto no compasso da rotina que o que menos importa é mudar os padrões que criamos meticulosamente.

É como se seguíssemos um manual de instruções para cada tarefa que temos de executar. Corremos de um lado para outro, o dia inteiro, somente para darmos conta de nossas "responsabilidades".

Nosso comportamento se assemelha ao de um autômato que cumpre os comandos sem questionar. O mundo moderno é nutrido pela ansiedade e pela depressão que ele próprio fomenta, e que cuidadosamente nos atrai e nos alimenta com sua engrenagem consumista.

A sociedade hightech parece uma celebração de todas as coisas que nos afastam da verdade, nos dificultam a viver para a verdade e até nos desencorajam a acreditar que ela exista.

É uma egrégora de altíssima organização, versatilidade e sofisticação, a ponto de subjugar até mesmo seus criadores. Por que não exercemos nossa capacidade de escolha? Escolher é a aptidão que faz de nós seres humanos.

Mas não basta escolher, é preciso escolher com sabedoria.

Abafamos nosso medo inconfesso da impermanência, escolhendo ter mais e mais compromissos, mais e mais aquisições, mais e mais confortos, só para nos tornarmos escravos de tudo isso.

Nosso tempo, um bem precioso e findável, se escoa na manutenção de coisas e mais coisas. Diante de intercorrências inesperadas, optamos pelo remédio mais rápido, pela solução mais direta e temporária.

Não queremos perder tempo. Temos a ilusão que o fluxo da vida está sob nosso controle e ficamos perplexos quando somos surpreendidos por uma doença grave ou um infortúnio que nos sacuda da cabeça aos pés.

Estamos ligados à vida por um fio muito tênue, que pode ser rompido com mais facilidade do que pensamos.

Num momento estamos bem, no seguinte não podemos prever o que irá nos acontecer.

Como um antigo mestre dizia: "Os seres humanos passam a vida usando todas as suas capacidades se preparando, se preparando. . . para afinal chegarem ao fim dela despreparados. "

Temos que trabalhar e ganhar nosso pão, mas não devemos nos enredar em uma existência das-oito-às-seis onde vivemos sem noção do significado mais profundo da vida.

Uns podem achar que a vida é um processo em curso do qual os seres vivos fazem parte, e procuram viver da melhor maneira possível.

Outros dão um significado e um propósito maior à vida, tornando-a mais representativa e significativa. Contribuem para transformar este mundo em um lugar cada vez melhor onde realmente valha a pena viver.

A escolha está em cada um de nós. Viva em equilíbrio, encontre o caminho do meio, não se estenda em atividades e preocupações irrelevantes, invista no auto-conhecimento, ouça sua voz interior, siga seu coração.

Simplifique a vida e ela revelar-se-á como uma linda experiência, uma constante aventura, uma enorme descoberta e um eterno aprendizado.

Nossas capacidades são indispensáveis para conquistarmos uma vida estável e segura, mas são nossas escolhas que nos tornam aquilo que somos.

imagens: internet música: “Ticket to Ride” Flavio Cucchi Para que todos os seres possam despertar e buscar sua razão de viver! by Zulma 16 nov 2008